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O POETA E O RIO PARDO

Para quem quiser saber
Das coisas que vou contar
Peço somente atenção
Para depois me julgar
Se só lhes digo a verdade
Ou quero lhes enganar.

É certo, caros amigos,
Muitos me acham mentiroso;
Principalmente, se falo
Do que mexe com o teimoso
Ou se fere a feia imagem
De quem é muito orgulhoso.

Mas isso não vem ao caso...
Qualquer um pensa o que quer...
Quem quiser acreditar
Que acredite de boa fé
Ou então vá perguntar
Para o finado Tomé.

Acredite minha gente,
Um rio conversou comigo.
Falou de seu sofrimento,
Pois corre grande perigo
E precisa da atenção
Urgente d’um povo amigo.

É do Rio Pardo que falo
Com seu valor relevante
Do qual eu fiquei sabendo
Que eu mesmo sou ignorante
Quando o caso é preservar
Algo de muito importante.

E assim ele me contou
A sua solene história:
— “Amigo, preste atenção:
Nem só de prazer e glória
Vivem os seres em sua
Curta e louca trajetória.”

“Por vezes agente encontra
Alguns percalços na vida
Que deixam marcas profundas
De tanta dor e ferida
E nos levam o vigor
E a paz tão pretendida.”

“Caro amigo, sou matéria
Essencial pr’os seres vivos.
Em quase tudo estou
Com meus princípios ativos
Pra dar vida aos produtos,
Teu alimento, teus cultivos.”

“Das minhas águas tão pardas
Quanto o pardo da juriti,
Fiz-me fonte de sustendo.
Muitos peixes forneci
Também a sede saciei
E a todos sempre servi.”

“Nunca exigi nada em troca
Pelo que fiz e ainda faço.
Mas hoje apenas reclamo,
Pois já me veio o cansaço,
Vendo muitos insensíveis
Diante da agonia que passo.”

“Já não vejo mais respeito
Aos recursos naturais.
São tantos esgotos fétidos,
Dejetos nos mananciais,
Queima de matas ciliares...
Chega! Não suporto mais.”

“São tantos rios que morreram
Nesse descaso tirano
Que chego a me ver vazio
Como o vazio do humano
Pois eu serei mais um leito
A secar a qualquer ano.”

Dito isso, o rio se calou.
E no meu peito a tristeza
Fez morada com revolta
E logo me deu clareza
Para ver muito melhor
O valor da Natureza.

O Rio Pardo nasce em Minas
E deságua em Canavieiras
Cá no estado da Bahia.
Suas águas e corredeiras
Irrigam muitas cidades
E populações inteiras.

Os ribeirões de Veredas
E Salitre, seus afluentes,
Com os rios Macarani
E Maiquinique adjacentes,
Com rio São João do Paraíso,
Completam as suas vertentes.

Santo Antônio foi seu nome
No período colonial
Quando o colonizador
Spinoza, do litoral,
Iniciou sua expedição
Em busca do vil metal.

E não podemos esquecer
Dos rios Catolé e Verruga
(Este bastante poluído)
Pelo Rio Pardo têm fuga
Rumo ao Oceano Atlântico —
Berçário de tartaruga.

Povoavam nossa região,
De mata alta e de cipós,
As tribos guerreiras
De Aimorés e Mongoiós,
Tapuias e Tupinambás,
E os valentes Pataxós.

Um rio conversou comigo.
Acredite, minha gente!
Expôs sua angústia e dor.
E desse dia para frente
Passei a cuidá-lo melhor
E a tratá-lo diferente.

Hoje sou ecologista
(Um defensor ambiental)
Defendo os nossos rios
E a preservação florestal.
Pois não quero que o planeta
Sofra uma seca global.


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GILMAR PEREIRA LIMA
Enviado por GILMAR PEREIRA LIMA em 24/11/2014
Alterado em 30/05/2020
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